Este pêlo branco

Aqui, nesta montanha batem os primeiros matinais raios de sol e quando este desce e se apresenta o luar tem-se a sensação de que nada se apresentou diferente do que já foi, do que é ou que poderá vir a ser. Não espere nada, nem deslumbramento nem desilusão, não é essa a brancura que se pretende.
Anseie o nulo para que atinja o supremo início do tudo de novo.
Muito gosto,
Cabra Branca.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

terça-feira, 25 de setembro de 2012

por-me em-ti (todo :))



Como se de um inverno duro se tratasse, subia as escadas com o corpo a tremer, acusado por um nervosismo encharcado. Subia as escadas ciente de uma violação programada, as pernas doíam, igual a quem veio de uma audição que nunca fora ensaiada. A mente embriagada, exausta de um medo embaraçado. A meio da escada pensou baldar-se, numa luta frustrada, num pensamento gamado, ingrato e acanhado. Só lhe via as costas, naquele subir dengoso, que costas eram as dela, suave aquele subir, desejado e balançado, que o pensamento fora-lhe extraviado. A porta abriu, um rodar lento de canhão, um som igual a um só pulmão. Entrou. Olhou, olhar vago, regalado, mas tão pouco disfarçado. O coração acelerado num medo profundamente instalado. Agarraram-se desejosos, ávidos do que foi um dia imaginado, sobre um querer recreado. Colaram como quem lambe envelopes a serem selados e depois decorados por selos despido a nu, já meio avistados.
Os mais de mil beijos apressados, medo que lhes fossem roubados, os corações atormentados num reboliço tão cobiçado. Tão apertados... emaranhados, ela sobe, sobe por ele, um corpo alto em físico latejado, sobe por ele e enrola as suas pernas. Obstinados nas bocas que beijam excitados e despem. Despem a pouca roupa, rasgam os medos como quem arranca a pele e nasce ali um todo querer num tudo ambicionado. E anda ele, pequenos passos com ela pendurada, ela amada. E mais longe não será, e é tão real, tão contente numa queda boa, sobre um perfeito corpo anunciado, num colchão sonhado. Cai sobre ela, na cama larga o peso do seu corpo entesado.
Da janela do quarto da cidade um calor que abrasa, derrete os corpos despidos de inquietação, desliza e afaga os de outrora apetites anunciados. Cai sobre ela, o peso dum corpo ansiado, inaugura a viagem de sentidos, todos os medos ali já perdidos.
Lasciva, impaciente, engole todas as pingas de sobra, as que caem dos beijos libertinos, ama a luxúria da pele lustrosa, afável e cheirosa. Ele, esconde os olhos, parte em show matiz, avança e lidera, desenha rubro num rosto e sorri.
Enrolam, afagam amassam e esticam um tesão gritante. Prévias vadias, apetites impetuosos... e gemem, invadem sem aviso num lar apetecido. Mareiam gloriosos, é um lago, é um mar com pronuncia de enorme  e carpem por um não mais findar. E ficam, ficam, ficam... 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

por-me em-ti (cont.)



Os mais de mil beijos apressados, medo que lhes fossem roubados, os corações atormentados num reboliço tão cobiçado. Tão apertados... emaranhados, ela sobe, sobe por ele, um corpo alto em físico latejado, sobe por ele e enrola as suas pernas. Obstinados nas bocas que beijam excitados e despem. Despem a pouca roupa, rasgam os medos como quem arranca a pele e nasce ali um todo querer num tudo ambicionado. E anda ele, pequenos passos com ela pendurada, ela amada. E mais longe não será, e é tão real, tão contente numa queda boa, sobre um perfeito corpo anunciado, num colchão sonhado. Caí sobre ela, na cama larga o peso do seu corpo entesado. (continua)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

por-me em-ti

Como se de um inverno duro se tratasse, subia as escadas com o corpo a tremer, acusado por num nervosismo encharcado. Subia as escadas ciente de uma violação programada, as pernas doíam, igual a quem veio de uma audição que nunca fora ensaiada. A mente embriagada, exausta de um medo embaraçado. A meio da escada pensou baldar-se, numa luta frustrada, num pensamento gamado, ingrato e acanhado. Só lhe via as costas, naquele subir dengoso, que costas eram as dela, suave aquele subir, desejado e balançado, que o pensamento fora-lhe extraviado. A porta abriu, um rodar lento de canhão, um som igual a um só pulmão. Entrou. Olhou, olhar vago, regalado, mas tão pouco disfarçado. O coração acelerado num medo profundamente instalado. Agarraram-se desejosos, ávidos do que foi um dia imaginado, sobre um querer recreado. Colaram como quem lambe envelopes a serem selados e depois decorados por selos despido a nu, já meio avistados. (continua)


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

um dos mil pedaços



Quem é ela, quantas são ela? Cogitava ele entre o deslize das suas mãos grandes, seguras e fortes pelo corpo quente dela. Será mil ou uma só quebrada em tantas. Quem é ela perguntava... as mãos ouviam melhor do que ouvidos recheados a todas as palavras e ao que elas lhe podiam contar. Quem é ela questionava... no fundo sem querer saber. Não por medo, não por respeito, naquela pele afigurava o que era, era uma cortina fina que esvoaçava violenta, por portadas arrancadas a uma janela num sopro profundo, profano e revelador. Quem é ela? Uma? Meia dúzia? Quem é ela pensava... sabia, sempre soubera quem era, dizer para quê, dizer porquê, as palavras não eram necessárias. Sim, sempre soubera, só a esperou por todas as de mais de mil vidas que passou, e a esperou. Tranquilo continua à espera, com um olhar breve sobre um céu cobiçado por nuvens a passar. Quem é?
É ela. Qual delas não sei, não sei...
É ela. Seguramente é...
é ela!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

memórias do que foi um Verão


O verão fizera-se defunto, o sol já não pairava sobre ele e nela já não brilhava a luz de costume.
Sabia que os dias se tornariam mais pequenos, tal como o esquecimento, mas os pensamentos do que foi, ainda a povoava, pairava-lhe como um abutre sobre um corpo quente, caído na areia de um deserto.
Ali já nada se respirava, nada ali crescia, era uma imagem vaga do que fora algo meio esquecido.
Ansiava por uma tempestade molhada, que lhe encharcasse a nuca agastada, a brasa dos dias de verão queimara-lhe a alma, embaçara-lhe o corpo que ainda mexia,  o dela. Porque ele morrera. Ele morrera... 
A custo, enrolou o cadáver transfigurado de verão,  ele era possante, outrora vigoroso. Enrolou-o e deixou-o sobre a cama vazia, afinal não passava do que era, um morto como qualquer outro, um físico que o deixou de ser. Ele estava morto. Morto...
Enfiou os chinelos e saiu para a rua, no corpo só levava a camisa fina com que passara a noite com ele. O vento roçava-lhe na pele trazendo um aroma difuso do que foi um dia cheiro dele. E chegara-lhe a calma.
Cruzou todas as ruas de pó, as que a levavam a um destino certo, os pés envolviam-se com a poeira, travavam conhecimento de passagem. E as outras,  a miravam com desconfiança, aquelas que se encontravam à janela a ver o tempo passar, debruçadas no quadrado, de costas voltadas aos lares esquecidos.
Atravessou a última estrada, descalçou os chinelos à chegada e entregou o pó ocre que transportava à areia daquela praia, e ali se fizeram logo casal. Caminhou tranquila até ao mar, as pequenas ondas insistentemente desfaziam-se na areia, sem nunca desistirem por todas as tentativas de nunca se quebrarem. E os pés se molharam de água cristalina e avançou, avançou entregando o corpo a uma paz temperada a sal, a sabor e a cor. O corpo estremecia confundido entre uma dormência e um prazer. Encharcara-se e envolvera-se, fechou os olhos e avançou, avançou, cobrindo-se por um manto infinito azul e avançou, avançou, os pés perderam a fina areia que calcava e o corpo livre flutuou.